DE QUANDO ALEXANDRE, O GRANDE, IMPERADOR GREGO, QUE VIVEU NO 4º SÉCULO A.C, SE CURVOU AO SACERDÓCIO DO DEUS VIVO, EM JERUSALÉM, NA TERRA DE ISRAEL.
Alexandre, o Grande, rei da Macedônia, passa da Europa para a
Ásia e destrói o império dos persas. Quando se julga que vai destruir Jerusalém, ele perdoa os judeus e trata-os favoravelmente.
449. Nesse mesmo tempo, Filipe, rei da Macedônia, foi morto à traição na cidade de Egéia, por Pausânias, filho de Ceraste, que era da família dos Orestes. Alexandre, o Grande, seu filho, sucedeu-o. E, passando o estreito do Helesponto, entrou na Ásia e venceu, numa grande batalha perto do rio Grânico, os que comandavam o exército de Dario. Conquistou em seguida a Lídia e a Jônia, e atravessando a Caria, entrou na Panfília.
450. No entanto, os mais ilustres de Jerusalém não podiam tolerar que Manasses, irmão de jado, sumo sacerdote, tivesse desposado uma estrangeira, porque isso violava as leis referentes aos casamentos e estabelecia uma mistura profana com nações idolatras. Além disso, fora exatamente essa a causa do cativeiro e de tantos males que haviam sofrido. Assim, eles insistiam em que Manasses ou despedisse a sua mulher ou não servisse mais no altar. Jado, forçado pelas queixas dos outros, fez valer essa proibição.
Manasses então procurou Sanabalete, seu sogro, e disse-lhe que, ainda que amasse extremamente a sua mulher, o sacerdócio era uma tão grande honra entre os seus nacionais que ele não podia privar-se dela. Sanabalete respondeu-lhe que, se ele conservasse consigo sua filha, não somente o faria desfrutar aquela honra, mas obteria para ele o cargo de sumo sacerdote e príncipe da Judéia e conseguiria do rei Dario o consentimento para construir um templo semelhante ao de Jerusalém sobre o monte Gerizim, que é o mais alto da região e situa-se em Samaria.
Sanabalete era então muito idoso, porém Manasses não deixou de sentir o efeito de suas promessas, pelo favor de Dario. Assim, estabeleceu-se em Samaria, e vários outros sacerdotes e judeus, que também haviam contraído semelhantes matrimônios, uniram-se a ele. Sanabalete, secundando a ambição do genro, deu-lhe dinheiro, casas e terras. Tudo isso veio causar grande agitação em Jerusalém.
451. Dario, tendo sabido da vitória obtida por Alexandre sobre os seus generais, reuniu todas as suas forças, para marchar contra ele antes que se tornasse senhor de toda a Ásia. Depois de passar o Eufrates e o monte Tauro, que está na Cilícia, resolveu dar-lhe combate. Quando Sanabalete viu que ele se aproximava de Jerusalém, disse a Manasses que cumpriria a sua promessa logo que Dario tivesse vencido Alexandre, pois tanto ele quanto os povos da Ásia duvidavam que os macedônios, sendo em tão pequeno número, ousassem combater o formidável exército dos persas. Os fatos, no entanto, mostraram o contrário. A batalha travou-se, e Dario foi vencido, com graves perdas. Sua mãe, sua mulher e seus filhos foram feitos prisioneiros, e ele foi obrigado a fugir para a Pérsia.
Alexandre, depois da vitória, chegou à Síria. Tomou Damasco, apoderou-se de Sidom e sitiou Tiro. Durante o tempo em que esteve empenhado nessa empresa, escreveu a Jado, sumo sacerdote dos judeus, pedindo-lhe três coisas: auxílio, comércio livre com o seu exército e a mesma assistência dispensada a Dario. Se o fizesse, garantia-lhe que não teria motivo para se arrepender de ter preferido a sua amizade à de Dario. O sumo sacerdote respondeu que os judeus haviam prometido com juramento a Dario jamais tomar armas contra ele, e por isso não podiam fazê-lo enquanto ele vivesse.
Alexandre ficou tão irritado com essa resposta que mandou dizer-lhe que, logo que tivesse tomado Tiro, marcharia contra ele com todo o seu exército para ensinar a ele e aos demais a quem se devia guardar um juramento. Em seguida, atacou Tiro com tanta força que dela se apoderou. E, depois de haver regularizado todas as coisas, foi sitiar Gaza, onde Baemes governava em nome do rei da Pérsia.
452. Voltemos, porém, a Sanabalete. Enquanto Alexandre ainda estava ocupado no cerco de Tiro, ele julgou que o tempo era próprio para realizar o seu intento. Assim, abandonou o partido de Dario e levou oito mil homens a Alexandre. O grande príncipe recebeu-o muito bem. Sanabalete disse-lhe então que tinha um genro de nome Manasses, irmão do sumo sacerdote dos judeus, que vários daquela nação se haviam juntado a ele pelo afeto que ele lhes tinha e que desejava construir um templo próximo de Samaria, sendo que o rei poderia disso tirar grande vantagem, porque assim dividiria as forças dos judeus e impediria que aquela nação pudesse se revoltar por inteiro e causar-lhe dificuldades, tal como fizeram os antepassados deles aos reis da Síria.
Alexandre consentiu nesse pedido, ordenou que se trabalhasse com incrível diligência na construção do templo e constituiu Manasses sumo sacerdote. Sanabalete sentiu grande alegria por ter granjeado tão grande honra aos filhos que ele teria de sua filha. Ele morreu depois de passar sete meses junto de Alexandre no cerco de Tiro e dois no de Gaza. O ilustre conquistador, depois que tomou essa última cidade, avançou para Jerusalém, e o sumo sacerdote Jado, que bem conhecia a sua cólera contra ele, vendo-se com todo o povo em tão grave perigo, recorreu a Deus, ordenou orações públicas para implorar o seu auxílio e ofereceu-lhe sacrifícios. Deus apareceu-lhe em sonhos na noite seguinte e disse-lhe que espalhasse flores pela cidade, mandasse abrir todas as portas e fosse ao encontro de Alexandre revestido de suas vestes sacerdotais, acompanhado pelos demais, que deveriam estar vestidos de branco, sem nada temer do soberano, porque ele os protegeria.
Jado comunicou com grande alegria a todo o povo a revelação que tivera, e todos se prepararam para esperar a vinda do rei. Quando se soube que ele já estava perto, o sumo sacerdote, acompanhado pelos outros sacerdotes e por todo o povo, foi ao seu encontro com essa pompa tão santa e tão diferente da de outras nações até o lugar denominado Safa, que em grego significa "mirante", porque de lá se pode ver a cidade de Jerusalém e o Templo. Os fenícios e os caldeus que integravam o exército de Alexandre não duvidavam de ele, na cólera em que se achava contra os judeus, lhes permitiria saquear Jerusalém e daria um castigo exemplar ao sumo sacerdote.
Mas aconteceu justamente o contrário, pois o soberano, apenas viu aquela grande multidão de homens vestidos de branco e os sacerdotes revestidos com os seus paramentos de linho e o sumo sacerdote com o seu éfode de cor azul adornado de ouro e com a tiara sobre a cabeça, que continha uma lâmina de ouro sobre a qual estava escrito o nome de Deus, aproximou-se sozinho dele, adorou aquele augusto nome e saudou o sumo sacerdote, ao qual ninguém ainda havia saudado. Então os judeus reuniram-se em redor de Alexandre e elevaram a voz para desejar-lhe toda sorte de felicidade e de prosperidade. Porém os reis da Síria e os grandes que o acompanhavam ficaram tão espantados que julgaram que ele havia perdido o juízo.
Parmênio, que desfrutava grande prestígio, perguntou-lhe como ele, que era adorado em todo mundo, adorava o sumo sacerdote dos judeus. Respondeu Alexandre: "Não é a ele, ao sumo sacerdote, que adoro, mas ao Deus de quem ele é o ministro, pois quando eu estava ainda na Macedônia e imaginava como poderia conquistar a Ásia, ele me apareceu em sonhos com essas mesmas vestes e exortou-me a nada temer. Disse-me que passasse corajosamente o estreito do Helesponto e garantiu que Deus estaria à frente de meu exército e me faria conquistar o império dos persas. Eis por que, jamais tendo visto antes alguém revestido de trajes semelhantes a esses com que ele me apareceu em sonho, não posso duvidar de que tenha sido por ordem de Deus que empreendi esta guerra, e assim vencerei Dario, destruirei o império dos persas, e todas as coisas suceder-me-ão segundo os meus desejos".
Alexandre, depois de assim responder a Parmênio, abraçou o sumo sacerdote e os outros sacerdotes, caminhou no meio deles até Jerusalém, subiu ao Templo e ofereceu sacrifícios a Deus da maneira como o sumo sacerdote lhe disse para fazer. O sumo sacerdote mostrou-lhe em seguida o livro de Daniel, no qual estava escrito que um príncipe grego destruiria o império dos persas e disse-lhe que não duvidava de que era dele que a profecia fazia menção. Alexandre ficou muito contente. No dia seguinte, mandou reunir o povo e ordenou que dissessem que favores desejavam receber dele. O sumo sacerdote respondeu que eles suplicavam permissão para viver segundo as suas leis e as de seus antepassados e isenção, no sétimo ano, do tributo que lhe pagariam nos outros anos. Ele concordou. E, tendo eles também pedido que os judeus que moravam na Babilônia e na Média desfrutassem os mesmos favores, ele o prometeu com grande bondade e disse que se alguém desejasse servir em seus exércitos ele permitiria a tal pessoa viver segundo a sua religião e observar todos os seus costumes. Vários então alistaram-se.
Esse grande príncipe, depois de agir desse modo em Jerusalém, passou às cidades vizinhas, que lhe abriram as portas. Os samaritanos, cuja capital então era Siquém, situada sobre o monte Gerizim e habitada por judeus desertores de sua nação, vendo que o conquistador tratara com bondade os de Jerusalém, resolveram dizer-lhe que também eram judeus. Pois, como dissemos há pouco, eles não nos reconhecem por compatriotas quando as coisa vão mal para nós e então falam a verdade. Mas quando a sorte nos é propícia eles procuram provar que têm a mesma origem, que são do nosso sangue, como descendentes de José por Manasses e Efraim, seus filhos.
Assim, logo que Alexandre saiu de Jerusalém, eles foram, acompanhados pelos soldados que Sanabalete lhes havia mandado, à presença do soberano com grande aparato e demonstrações de alegria para pedir-lhe que fosse à sua cidade e honrasse o seu templo com a sua presença. Ele prometeu fazê-lo na volta. Quanto a um pedido para que também lhes perdoasse no sétimo ano os tributos, porque eles não semeavam a terra nessa ocasião, ele perguntou de que nação eles eram. Responderam que eram hebreus, mas que os sidônios os chamavam de siquemitas. Ele perguntou-lhes então se eram judeus. Eles responderam que não, e então ele lhes disse: "Eu concedi esse favor somente aos judeus, mas vou me informar desse assunto quando voltar e, depois que souber de tudo detalhadamente, farei o que for mais justo". Depois de assim lhes falar, despediu-os, mas ordenou às tropas de Sanabalete que o seguissem ao Egito, onde lhes daria terras, o que ele fez logo em seguida, e os aquartelou como guarnições da Tebaida.
Depois da morte de Alexandre, o império foi dividido entre os seus sucessores, e o templo construído no monte Gerizim permaneceu em seu primitivo estado. Os judeus que moravam em Jerusalém e pecavam contra a fé, quer comendo alimentos proibidos, quer não observando o sábado, ou coisa semelhante, refugiavam-se entre os siquemitas, alegando que haviam sido injustiçados. Jado, sumo sacerdote, morreu nessa época, e Onias, seu filho, sucedeu-o.
FONTE: História dos Hebreus (Flávio Josefo)
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